Como Evitar Clichês na Construção de Mundos de Fantasia (especialmente para o Público Jovem)

Olá, aventureiros e arquitetos de universos! Aqui é a Gê, sua guia na arte de criar mundos que desafiem a imaginação e fujam do óbvio. Quando estamos criando um mundo de fantasia, é tentador recorrer a elementos familiares, mas a originalidade é a chave para criar algo que realmente se destaque. Hoje, vamos explorar como evitar clichês e trazer frescor à sua construção de mundos. Preparados? Vamos desbravar esses territórios juntos!

Compreendendo os Clichês

Antes de evitá-los, precisamos entender o que são clichês. Clichês são ideias, personagens ou cenários que foram usados tantas vezes que se tornaram previsíveis e, em muitos casos, desinteressantes. Embora possam ter sido inovadores em algum momento, sua repetição constante os desgastou.

Clichês Comuns em Fantasia

Na literatura fantástica, alguns dos clichês mais comuns incluem:

  • O Escolhido: Um jovem herói com uma profecia a cumprir.
  • Reinos Medievais: Mundos que parecem ser sempre ambientados na Europa medieval.
  • O Sábio Mentor: Um personagem mais velho e sábio que guia o herói.
  • Raças Estereotipadas: Elfos sempre belos e justos, anões rudes e mineradores, etc.

Esses elementos não são inerentemente ruins, mas seu uso excessivo sem inovação pode fazer com que uma história pareça derivativa.

Por exemplo, o arquétipo do “Escolhido” é visto em obras como Harry Potter, onde o protagonista tem um destino predeterminado e é o único que pode derrotar o grande vilão. Enquanto essa narrativa é envolvente, ela já foi explorada em muitas histórias, desde O Senhor dos Anéis até Star Wars. Reutilizar esse arquétipo sem nenhuma inovação pode fazer com que sua história pareça uma repetição de tantas outras.

Outro clichê frequente é o ambiente medieval europeu, com castelos, cavaleiros e uma clara divisão de classes. Embora seja um cenário popular, também já foi explorado exaustivamente em obras como Game of Thrones e The Witcher. Isso não significa que você não possa usar esse cenário, mas é importante trazer algo novo para a mesa, seja na forma de uma cultura diferenciada, seja na forma como a sociedade funciona nesse mundo.

Por que Evitar Clichês?

Clichês podem fazer com que seu mundo de fantasia pareça menos original e mais previsível. Quando os leitores sentem que já viram tudo antes, é difícil mantê-los engajados. Além disso, confiar em clichês pode limitar a profundidade e a complexidade do seu mundo, impedindo que ele se torne algo verdadeiramente memorável.

Por exemplo, se você criar uma raça de elfos que são sempre nobres e graciosos, os leitores já terão uma ideia preconcebida de como esses personagens agirão e quais serão seus papéis na história. Isso pode tirar a surpresa e o encanto da leitura.

Além disso, os clichês podem limitar sua criatividade como escritor. Ao se prender a fórmulas já estabelecidas, você pode perder a oportunidade de explorar novas ideias e perspectivas. O mundo da fantasia é vasto e cheio de possibilidades; não há necessidade de se limitar a elementos que já foram exaustivamente explorados.

Abordagens Criativas para Evitar Clichês

Agora que sabemos o que são clichês e por que podem prejudicar sua história, vamos explorar como evitá-los na construção de mundos de fantasia.

Subverter Expectativas

Uma maneira eficaz de evitar clichês é subvertê-los. Em vez de seguir o caminho esperado, vire a expectativa de cabeça para baixo. Isso não só surpreenderá seus leitores, mas também dará nova vida a ideias antigas.

Por exemplo, em vez de ter o típico “Escolhido”, por que não criar uma história onde a profecia está errada, ou onde o Escolhido falha, e outra pessoa, improvável, precisa salvar o dia? Ou talvez o Escolhido seja alguém que nem acredita em profecias e reluta em aceitar seu destino.

Outro exemplo seria transformar um reino medieval previsível em algo diferente, talvez ambientado em um deserto, com culturas inspiradas em civilizações antigas da África ou da América do Sul, em vez da Europa.

A série A Roda do Tempo, de Robert Jordan, começa com o conceito do Escolhido, mas o desenvolve de maneiras que desafiam as expectativas, incluindo dúvidas sobre quem é o verdadeiro Escolhido e as consequências sombrias de tal destino.

Misturar Elementos Inusitados

Misturar elementos de diferentes gêneros ou culturas pode resultar em um mundo de fantasia único e inesquecível. Imagine como você pode combinar ideias aparentemente incompatíveis para criar algo novo.

Imagine um mundo onde tecnologia steampunk se mistura com magia antiga, ou onde civilizações inspiradas em culturas asiáticas coexistem com tribos baseadas em mitologias africanas. Essa fusão de elementos pode gerar algo original, quebrando a monotonia dos clichês tradicionais.

Um exemplo de obra que faz isso bem é Mortal Engines de Philip Reeve, que mistura elementos de ficção científica com um mundo pós-apocalíptico onde cidades se movem sobre rodas gigantes. Esse tipo de combinação inesperada pode ser um antídoto eficaz contra o tédio dos clichês.

Outro exemplo é O Nome do Vento, de Patrick Rothfuss, que mistura a estrutura de uma escola de magia com uma narrativa profundamente pessoal e introspectiva, resultando em um mundo que parece ao mesmo tempo familiar e completamente novo.

Criar Culturas e Raças Originais

Ao criar novas culturas e raças, tente ir além dos arquétipos comuns. Elfos e anões têm seu lugar, mas considere como você pode reinventá-los ou criar algo completamente novo.

Em vez de elfos perfeitos e imortais, que tal uma raça que vive em simbiose com árvores, mas que paga um preço por essa conexão? Ou anões que não são apenas mineradores, mas também grandes mestres da alquimia, com habilidades para transformar metais em substâncias mágicas?

Brandon Sanderson, em suas diversas obras como Mistborn e Stormlight Archive, é conhecido por criar raças únicas com habilidades e culturas complexas, sempre fugindo do óbvio. Ele nos apresenta os kandra, criaturas metamórficas com uma cultura e história próprias, e os Parshendi, uma raça que desafia nossas noções sobre o que constitui heróis e vilões.

Explorando Temáticas Incomuns

Além de evitar clichês em personagens e cenários, explorar temas incomuns pode ajudar a diferenciar sua obra de outras histórias de fantasia.

Temas Ambientais

Muitos mundos de fantasia ignoram o impacto ambiental ou a relação das sociedades com a natureza. Criar um mundo onde o equilíbrio ecológico é central para a trama pode ser uma abordagem refrescante.

Imagine uma civilização que vive em harmonia com criaturas gigantes, mas que está à beira do colapso devido ao desequilíbrio causado por uma catástrofe natural. Ou uma sociedade onde o uso excessivo de magia está destruindo o mundo lentamente, forçando os personagens a reavaliarem sua dependência dessa energia.

O romance A Quinta Estação de N.K. Jemisin explora o impacto de cataclismos ambientais em uma sociedade, adicionando uma camada de complexidade e urgência à narrativa. Jemisin não apenas cria um mundo fantástico, mas também um comentário sobre a relação entre humanidade e meio ambiente, algo raramente explorado de maneira tão profunda na fantasia tradicional.

Conflitos Filosóficos

Mundos de fantasia geralmente focam em batalhas épicas entre o bem e o mal, mas e se o conflito central fosse filosófico? Questões sobre o livre-arbítrio, a natureza da realidade ou a ética do uso da magia podem criar tramas intrigantes.

Por exemplo, em vez de uma guerra tradicional entre reinos, sua história poderia girar em torno de um debate acirrado sobre a moralidade do uso de necromancia para trazer os mortos de volta à vida. Ou talvez uma sociedade que discuta os méritos do governo democrático versus uma liderança mágica hereditária.

Em Discworld de Terry Pratchett, questões filosóficas e sociais são frequentemente abordadas com humor e inteligência, fazendo com que os leitores reflitam sobre temas profundos enquanto se divertem com a história. A sátira de Pratchett não só desafia clichês, mas também questiona as suposições que os sustentam.

Outro exemplo é O Aleph, de Jorge Luis Borges, que embora não seja uma fantasia tradicional, explora a relação entre infinito, espaço e tempo de uma maneira que desafia as noções convencionais de narrativa e realidade, oferecendo um tesouro de inspiração para escritores de fantasia.

Desenvolvendo Personagens Complexos

Personagens que desafiam as expectativas também ajudam a evitar clichês em seu mundo de fantasia. Eles não precisam ser bons ou maus; podem ser complexos, com motivações e personalidades multifacetadas.

Anti-Heróis e Personagens Ambíguos

Em vez do herói tradicional que sempre faz o bem, considere criar anti-heróis ou personagens moralmente ambíguos. Esses personagens são mais realistas e podem adicionar profundidade à sua história, explorando questões complexas de moralidade e ética.

Os anti-heróis muitas vezes têm falhas significativas e podem agir de maneiras que não são moralmente corretas, mas ainda assim têm seus próprios códigos de conduta que seguem. Eles são personagens que, apesar de suas imperfeições, acabam ganhando a simpatia dos leitores pela complexidade de suas ações e motivações.

Por exemplo, em O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, Gollum é um personagem que desafia as noções tradicionais de herói e vilão. Ele é um anti-herói que, embora inicialmente seja um vilão, também desperta empatia e compaixão devido à sua trágica história e suas motivações internas.

Outro exemplo é o personagem Tyrion Lannister de As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin. Tyrion é um anti-herói que usa sua astúcia e inteligência para navegar em um mundo brutal e traiçoeiro, muitas vezes se alinhando com interesses próprios em vez de seguir um código moral rígido. Sua complexidade e ambiguidade moral fazem dele um personagem fascinante e memorável.

Além disso, em A Roda do Tempo, de Robert Jordan, o personagem Mat Cauthon começa como um anti-herói relutante, com uma atitude egoísta e imprudente, mas evolui ao longo da série, mostrando crescimento e complexidade que desafiam o arquétipo tradicional do herói.

Motivação e Desenvolvimento

Certifique-se de que seus personagens tenham motivações claras e bem desenvolvidas. As razões pelas quais eles fazem o que fazem devem ser críveis e se alinhar com suas personalidades e histórias de fundo.

Se um personagem age de uma maneira que parece fora do caráter, é importante que você explique as razões por trás dessas ações. Mesmo personagens que cometem atos questionáveis devem ter razões que façam sentido dentro do contexto da história.

Um exemplo clássico é o personagem de Anakin Skywalker em Star Wars. Seu desenvolvimento de um Jedi heróico para um Sith sombrio é baseado em suas motivações pessoais e traumas, tornando sua transição e eventual queda mais compreensíveis e impactantes.

Outro exemplo é a protagonista da trilogia Graceling, de Kristin Cashore, Katsa. Sua motivação para se rebelar contra a autoridade opressiva é profundamente enraizada em seu desejo de liberdade e justiça, e seu desenvolvimento ao longo da série reflete uma jornada complexa de autoconhecimento e crescimento pessoal.

Em A Trilogia do Mago Negro, de Trudi Canavan, o protagonista Sonea começa como uma jovem comum e se transforma em uma poderosa maga, com suas ações e decisões sendo impulsionadas por sua luta interna e o desejo de proteger aqueles que ama. O desenvolvimento de Sonea é profundamente ligado às suas motivações e ao crescimento pessoal.

Anti-Heróis

Os anti-heróis são personagens fascinantes que possuem características típicas de vilões ou que não seguem o padrão do herói tradicional. Eles podem agir de forma egoísta, imoral ou até mesmo cruel, mas têm camadas adicionais que tornam sua jornada complexa e interessante.

Por exemplo, o personagem Otori Takeo da série A Saga Otori, de Lian Hearn, é um anti-herói que começa sua jornada como um jovem desejando apenas uma vida pacífica. No entanto, após a morte de sua família e sua adoção por uma família guerreira, ele se vê envolvido em um mundo de violência e intrigas políticas. A luta interna de Takeo entre seus princípios morais e as exigências brutais do poder torna sua trajetória complexa e multifacetada, desafiando as convenções tradicionais de herói.

Em O Ciclo da Herança, de Christopher Paolini, o personagem Murtagh é um anti-herói que começa como um vilão, mas revela uma complexidade emocional e moral que desafia a percepção tradicional de herói versus vilão. Sua luta interna e o desenvolvimento de suas motivações fazem dele um personagem interessante e multifacetado.

Outro exemplo é Ali Baba, de Mil e Uma Noites: No conto Ali Baba e os Quarenta Ladrões, o personagem título é um anti-herói de natureza ambígua. Embora ele descubra a caverna secreta dos ladrões e roube sua fortuna, seu comportamento não é puramente maligno. Ele age para melhorar sua condição e a de sua família, mas suas ações são moralmente questionáveis, tornando-o um personagem tanto admirado quanto criticado.

Conclusão

Evitar clichês na construção de mundos de fantasia é um desafio, mas é essencial para criar uma história que seja verdadeiramente original e envolvente. Ao subverter expectativas, misturar elementos inusitados, e desenvolver personagens e temas complexos, você pode construir um universo que cativa e surpreende seus leitores.

Lembre-se de que a originalidade muitas vezes vem da combinação de ideias antigas de maneiras novas e criativas. Ao explorar o desconhecido e desafiar os padrões estabelecidos, você tem a oportunidade de criar um mundo de fantasia que se destaca e ressoa com seus leitores de maneira profunda.

A jornada de criar um mundo de fantasia é cheia de possibilidades e desafios. Com as técnicas e abordagens discutidas aqui, você estará bem equipado para evitar os clichês e construir um universo rico e fascinante. Então, continue explorando e criando – o seu próximo grande mundo de fantasia está esperando para ser descoberto!